Depoimento

'Não foi suicídio', diz mãe de terapeuta morto em Itaboraí

Jovem morreu com corda no pescoço após sumir de clínica

Mãe depôs sobre o caso na 71ª DP
Mãe depôs sobre o caso na 71ª DP |  Foto: Lucas Alvarenga

"Não acredito na versão do suicídio". A frase é da mãe do terapeuta Patrick Cardoso Fonseca, cuja morte está sendo investigada pela polícia em Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio. A esteticista, que depôs nesta quarta-feira (19) na 71ª DP, contou ainda que o filho havia enviado uma mensagem dias antes de morrer, pedindo para que ela não confiasse “nesse cara”, referindo-se a uma pessoa da Clínica Alpha onde estava internado, e afirmando que essa pessoa queria usá-lo como “escravo”.

Patrick foi encontrado sem vida, no último dia 2, com uma corda pendurada no pescoço. O corpo estava amarrado a uma árvore em um terreno próximo da clínica. O proprietário do estabelecimento também irá depor na tarde desta quarta. 

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“Meu filho já havia passado por coisas piores e nunca tentado nada disso. Não faz sentido. Faltavam poucos dias para ele sair, ele já estava com planos de trabalho, estava forte. Eu tive um imprevisto na questão financeira e adiei alguns dias (saída) por conta de alguns valores que não estavam no meu orçamento”, afirmou a mãe do terapeuta que preferiu não se identificar. 

A mulher contou ainda que o filho quis falar com ela um dia antes de sumir da clínica mas teria sido impedido por pessoas do local.

“Um dia antes de ele sumir, ele estava nervoso, provavelmente queria entender o que estava ocorrendo e eu não consegui falar. Aí depois eu falei com o dono da clínica e perguntei se ele estava calmo. O dono disse que ele havia dormido por causa do remédio e, no dia seguinte, eu recebo a notícia de que ele fugiu. Achei que ele ia me ligar, como ele sempre fazia quando fugia, e eu descubro dois dias depois que ele estava enforcado numa árvore. Acho que erraram na medicação, mas preciso de provas, quero exame de sangue. Não havia marcas nenhuma da corda nas mãos dele. Quero que a polícia investigue”, disse ela. 

Mensagem no Facebook 

“Eu descobri no meu Facebook uma mensagem dele dizendo 'não acredita nesse cara, ele vai querer me fazer de escravo'. A clínica sempre disse que lá todos gostavam dele e ele de todos. Essa mensagem eu vi há pouco tempo. Meu Facebook é antigo, eu não uso e ele nunca me mandava nada por lá. Eu vi essa mensagem e fiquei chocada. Acredito que a mensagem se referia ao dono da clínica. A mensagem estava desde o dia 20 de junho, mas eu só vi essa mensagem há alguns dias”, afirmou a mãe do jovem. 

Patrick não recebia visitas de namoradas e deixa uma filha, mas a mãe disse que ele nunca fez teste de DNA para saber se a criança é realmente dele. 

O jovem nasceu em Copacabana, na Zona Sul do Rio, mas morava desde os 5 anos no Reino Unido. Ele veio morar com a avó no Rio há alguns anos e foi internado na clínica em agosto do ano passado para tratar o vício em álcool e drogas. Ele foi parar nessa clínica em Itaboraí por indicações de outros profissionais da área. Ele era terapeuta e fez um ano de Administração, por isso estava com o currículo pronto para começar a procurar empregos quando saísse da clínica. 

Pedido de exumação 

O advogado da família do terapeuta pede a exumação do corpo do rapaz para que novos exames sejam feitos. O advogado Jairo Magalhães explicou que a polícia estava demorando na investigação.

“Na segunda-feira passada, a família nos procurou e viemos aqui. Foi quando tivemos acesso ao laudo do perito que fez a perícia do local onde o Patrick foi encontrado e, nesse laudo, o perito já falava da necessidade de uma investigação mais profunda para que se analisasse e chegasse a efetiva conclusão do evento dessa morte. Com base nesse laudo e nas informações fornecidas pela mãe do Patrick, viemos na delegacia e pedimos a investigação”, contou ele. 

Jairo pede que a polícia apure o que houve com o jovem. “Com a forma que ele foi encontrado, sem marcas nas mãos, pelos relatos da mãe dele e pelo perito, esperamos que a polícia investigue e esclareça esse caso. Todas as conversas da mãe do Patrick com o dono da clínica foram anexadas no processo. O Patrick sempre falava com a mãe, e o dono da clínica disse que sempre permitia, mas que dessa vez, um dia antes dele sumir, ele não deixaria. O Patrick era paciente, mas também trabalhava na clínica e não ganhava nada por isso. Antes dele sumir, a mãe do Patrick recebeu uma mensagem falando para a mãe não confiar nesse dono da clínica”, contou. 

Sobre as alegações ditas pelo dono da clínica Marcos Paulo Soares ao ENFOCO, o advogado negou que Patrick tinha livre acesso de entrada e saída do local.

“Ele fugiu da clínica quatro vezes e sempre procurava a mãe por telefone quando fugia e a mãe sempre o acalmava e ele voltava para a clínica para continuar o tratamento. É importante esclarecer que ele ainda estava em tratamento”, afirmou o advogado. 

Marcos Paulo explicou o ocorrido. “Então, pra gente foi uma fatalidade, né? Infelizmente, a gente não esperava que uma pessoa que era tão querida por nós vivesse uma situação como essa, né? Ele como paciente tinha direito de ir e vir e foi a escolha dele fazer o que ele fez. Estou muito triste com tudo isso. Ele era pra mim mais que um paciente, né? Ele era meu amigo, ele era um paciente que ia comigo até mesmo pro mercado, mas, infelizmente, ele tinha outros problemas com a família, problemas estruturais, emocionais, que aí já não compete mais”, contou ele. 

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